sábado, 16 de outubro de 2010

"E essa hora que não chega?"

Entre uma nebulização e outra, depois dos remédios tomados e de pedir mais um cobertor para a sobrinha, Ina diz a frase que já lhe engasgava. As tosses, os calafrios, a falta de apetite e a falta do seu amado incomodam a algum tempo.

Também pudera, com 94 anos e a um doente não era de se esperar outra reação que não fosse a vontade de passar. Passar a doença, mas passar a vida de sofrimento. Depois de tanto terminar triste não combinaria com ela.

Fazia tempo que não a via. Era uma velhinha cheia de energia aos 92 anos. Me admirava que conseguisse preparar seu café, contar piadas, varrer a casa e jogar canastra com as irmãs se não todos, quase todos os dias. Lhe contei da minha vida, minhas tias sempre querem saber da minha vida. Tia Ina era um pouco diferente, porque ela lembrava depois.

E lembrou. Mesmo em seu leito, nas poucas frases que conseguia formar em uma conversa, me perguntou se eu voltara ou se estava só de passagem. Não fiquei muito, logo saí de sua casa e voltei para o domingo ensolarado dos trabalhos. Mas a frase me cutucou, ficou na minha cabeça.

Numa sexta-feira seu sobrinho chamou todas as irmãs e amigas para visitá-la. "De hoje a velhinha não passa". Foi um dia de gargalhadas em que Ina falara muito mais que o de costume. Estava corada, estava bem. Nada a pensar a não ser alarme falso.

No dia seguinte eu estava longe. Me ligaram no meio da viagem. Tia Ina se foi. Já era esperado, então perguntei como. E fiquei feliz ao saber.

Naquela manhã acordou disposta. Saiu da cama e resolveu tomar café na companhia de todos, sentada à mesa. Estava alegre e conversou carinhosa, como quem se despede. Voltou a deitar-se e não chamou mais. A hora chegou.

sábado, 2 de outubro de 2010

Fui filmar casamento e peguei buquê da noiva

Pensei no título e a mão ficou coçando (dias) para escrever. Enrolações à parte, o post não será tão interessante assim. Hehe Digamos que o sensacionalismo que provoquei não corresponde a "notícia". Nada com o qual não estejamos acostumados, não é?

Meu chefe filma casamentos e como uma colega não poderia ir, a substitui, confesso que muito por curiosidade. Gosto de acompanhar eventos que não conheço. Nunca tinha ido a um casamento tocado por um pastor. Já dismistifico que não é assim tão diferente, só é menos cansativo e tem mais gente cantando.

Sempre tem a parente piriguete que resolve ir na cerimônia de micro-vestido de oncinha, a brega com vestido-bolo, a tia cheia de laquê e com reboco na cara, sem falar da tia-avó que não se aguenta em pé, tadinha.

A novidade é que, desde meu último casamento, os noivos não pagavam de modelo divulgando book que mostrasse sua sensualidade no telão, não pagavam de dançarinos-atores (fantasiados) com interpretação de pout-pourri descoladinho. As noivas se preocupavam em beijar os noivos e não em mandar beijinho para a câmera.

Tudo bem, afinal, eu era só a assistente de filmagem. Uma crua observadora das reações e atitudes dos presentes. Desde os convidados que correram para as mesas no exato momento em que o pastor trouxe o livro de testemunhas, até os garçons indignados com as inquisições do tipo "só um prato de docinho por mesa?".

Eu era quem mexia em fios e na iluminação. A sombra metida dos fotógrafos. Mas a primeira a pegar o buquê fui eu. (Agora vem a parte em que espero os "affs")

Enquanto os convidados corriam para dentro do salão e os dezoito casais de padrinhos faziam fila para assinar os papeis de testemunho, eu vi os noivos do outro lado da piscina em poses para a lente. Fui chamada para desinstalar o equipamento perto deles e fiquei ali olhando os modelos em ação.

Girei a luz para a cena (ou giraram, não me lembro) e era chegada a hora do noivo segurar a noiva pela cintura, enquanto os cabelos dela encostariam no chão não fosse pelo penteado. Mas ela não estava a vontade, tinha um peso leve mas desequilibrante na mão direita: o buquê.

Foi natural. O fotógrafo pediu o buquê, olhou pra mim e disse "segura um pouco pra mim?" E foi isso o que aconteceu. Não o raptei e nem tinha a intenção. A primeira coisa que pensei, e que me fez um sorriso maldoso no rosto, foi no título deste post. Fiquei viajando em pensamentos até que me pediram ele de volta.

Agora a respeito do destino do myprecious, sei lá. A noiva o deve ter levado para casa para secar e montar um arranjo morto. Porque o que ela jogou depois para as duas duzias de solteiras não eram as mesmas flores que segurei. Eram quatro chumaços!

Vai ver depois da correria dos esfomeados o mestre de cerimônias achou melhor evitar mais um motivo para confusão.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Adiós Serralves

No último fim de semana me despedi de meu lugar favorito do Porto. Na verdade não era minha intenção, mas é o que decidi pouco antes de sair de lá. Sábado passei o dia em Serralves, uma quinta gigante que abriga um Museu de Arte Contemporânea, cujo projeto é do arquiteto português Álvaro Siza, a Casa de Serralves, uma das únicas casas Art Deco de Portugal e um parque, com jardins, caminhos, chafariz, lago, campo com cavalinhos e boizinhos, horta, etc.

Eu fui incontáveis vezes, não tantas quanto gostaria, mas ainda sim incontáveis. O fato de a entrada ser gratuita para estudantes ajudou um bocado nisso. Minha última vez em Serralves foi também a primeira em que eu tirei fotografias, a minha segunda visita guiada, e o primeiro concerto que assisti no parque.

Foi intenso e marcante e por isso resolvi não voltar, mesmo que poucos dias antes do meu retorno ao Brasil estreie outra exposição e eu não tenha perdido nenhuma a partir do momento que fui ao local pela primeira vez.

Explorei tudo o que podia, extraí cada frase, cada céu azul, cada cheiro. Só não comi no restaurante, mas não deixei de tomar um cafezinho. Meus amigos costumam tratar o Porto como "meu Porto" depois do erasmus nessa cidade. Eu não tenho essa relação com a cidade, mas tenho um caso de amor com Serralves. Serralves foi meu porto no Porto.

Às vezes nos domingos mais tristes e solitários eu ia para lá e, depois de andar pelo museu, escolhia um cantinho no parque para sentar e ficava lá por horas. Via, sentia, escrevia e lia. Amava. Pensava na vida, não pensava em nada.

domingo, 27 de junho de 2010

Ideias

Já vi que meu mais novo hábito é deixar escritos inacabados. Muitos podem ser os motivos, a bateria fraca do computador, a pressa para sair, a necessidade de concentração no que interrompi por uma ideia a por na tela branca do bloco de notas. Mas justificativa pra isso não tenho.

Eu costumava terminar meus textos, sem voltar a mexer. Isso quando se trata de texto puramente emocional, pessoal, de diário de menina, geralmente em versos não rimados. Em matérias, como é óbvio, ainda mais quando se ainda cavalga rumo as letras melhor editadas, precisava ler, reler, reler, reler, reescrever e ainda assim saía algo imperfeito.

Nos meus textos pessoais o que sempre mais gostei foi essa imperfeição. Terminar como se um novo final, que não foi inserido, coubesse também. Como se alguém que lê-se pudesse pensar que aquele não era o melhor fim, e arriscasse outras soluções em sua cabeça.

Tudo terminava sem fim. O que é completamente diferente de deixar um texto em aberto. As sensações e o momento determinam o que vai sair, o que vai ser codificado. O eu que escreve agora será outro um outro dia, e já terá mudado o sentido. Não que assim não seja melhor. Ás vezes parar e abandonar o que se faz em troca de um pouco de sol, diversão e sorvete garantem o gás pra enriquecer um texto.

Mas ainda assim não é o que acontece. É a vontade de escrever que surge e urge por um momento, nem sempre exato, em que se quer tanto expressar uma ideia, a ideia quer tanto tomar um rumo, que brota. Pede por papel ou outro meio de propagação. O que a impede é que meu tempo está destinado a outras coisas, que mesmo menores, são o que me ocupam, o que repelem que elas desenvolvam-se.

Repelem no sentido de afastar, não de repugnar. A ideia fica. É registro. Um bom registro. Geralmente há tempo para um parágrafo. Como um exercício de dinâmica de gupo, em que a primeira parte do texto está lá e cada um contribui com um pedaço.

A diferença é que a dinâmica é individual, intransferível, e por puro prazer. É a dinâmica de tornar a dar a atenção que a ideia necessita, e se o meu eu de amanhã puder contribuir com mais dois parágrafos, tudo bem, um outro dia outro eu muda o rumo e escreve o que lhe convém, até que chegue o eu do arremate. E será este que vai repelir a ideia.

Repelir não no sentido de repugnar. Nem no sentido de afastar. No sentido de mandar ela embora.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Viagem ao século passado

Nesta semana dei início a uma empreitada que já deveria estar para terminar, uma pesquisa em jornais de 1980 a 1985 sobre uma Fundação de Arte que ainda NÃO existia. Pois é, ter professor louco e mais do que isso, escolher disciplina louca dá nisso.

Ontem conheci a Bibliteca Municipal do Porto, onde funcionava o Convento de Santa Clara no século XVII. O prédio é a coisa mais linda! Mas não são permitidas fotografias, nem do prédio, nem dos jornais, nem dos livros...para a minha pesquisa precisava copiar todas as páginas que falassem sobre o clima "precisamos de um museu de arte moderna no Porto". No way, honey.

Logo no início já fui informada: Quer tirar cópia? Somos nós que tiramos. Você preenche um termo de responsabilidade e um formulário e a cópia fica pronta em 20 dias. Pode pedir urgencia também. A cópia fica pronta em dois dias, por dez euros cinco páginas. Legal, hein??

E a solução? Bem, nem preciso dizer que estudante intercambista não tem grana pra gastar com esse tipo de coisas, então vou digitar os textos na íntegra. Ai meus dedinhos. Hehe

Bom, ta certo que a biblioteca funciona num edifício antigo, mas não precisava funcionar sem ser informatizada também né?! Assisti um documentário de 1956, Toute la memoire du monde, sobre a Bibliteca Nacional de Paris. Adivinha só: pura semelhança com essa que visitei...

domingo, 23 de maio de 2010

Roberto Saviano, aquele que não vi em Perugia

O acontecimento mais importante do Festival Internacional de Jornalismo Perugia não estava na programação. Não sei se por segurança, se para fazer surpresa ou porque foi de última hora. Talvez as três coisas, ou nenhuma delas, só estou a especular, o certo é que Roberto Saviano esteve em entrevista e falou sobre a máfia e eu não fui assistir.

Fiquei sabendo disso pela televisão de um quarto da pousada que dormi em Pisa (é, a chicosa aqui dormiu em quarto com cama de casal, televisão e toalhas, mas foi merecido. Dá uma lida aqui), dois dias depois que deixei Perugia. Foi frustrante.

A minha sorte é que ganhei um dvd com uma palestra e um monólogo de Saviano a respeito de "Parola contro Comorra". Então foi possível assistir, ouvir e me impressionar no conforto da minha casinha. Ótimo, mas óbvio que não é suficiente. O próximo passo é comprar o livro (porque sei que emprestado não será possível).

E eu aqui falando sobre ele como se todos o conhecessem. Bom, confesso que o conheço a muito pouco tempo, e bem por acaso. Fiquei sabendo de sua existência poucos dias antes do festival, enquanto conversava (e apanhava porque vi que me falta fundamento) sobre política com uma amiga italiana.

Saviano é um dos escritores que denunciam a máfia italiana. Não só denunciam, mas procuram difundir o que acontece no sul da Itália, muitas vezes abafado em panos quentes, ou por causa do poder paralelo exercido contra quem denuncia, ou mesmo pelo fato de não revelar os problemas internos para o mundo.

Uma forma de deixar exposto também o próprio jornalismo italiano, que se sujeita a publicar difamações a respeito dos que denunciam e prefere destacar o sentimento dos "boss" ao das vítimas daquilo o que o autor considera uma guerra.

Depois de assistir ao dvd consegui entender um pouco melhor a frase que ouvi em uma mesa de discussão do festival em que um jornalista falava a respeito do jornalismo "sarebbe". Esse sarebbe, seria, talvez, parece, quem sabe(...) A incerteza dá espaço para a incredibilidade. Abre espaço a publicar questionamentos de índole sem que isso precise de confirmação.

E retorno ao jornalismo brasileiro (novamente a caricatura dos problemas) quando fala da morte de jovens usuários de drogas, por exemplo. Você lê em uma matéria breve, quase uma notinha, que um jovem de 16 anos foi assassinado.

Logo leva um susto, tão jovem, mas a frase-arremate lhe deixa mais tranquilo. Estava envolvido com drogas. Coloca no mesmo saco usuário, traficante, aviãozinho (...) É a criminalização não confirmada, mas que abre espaço para difamar a vítima. Mais fácil para que a notícia passe despercebida. Para que fique para trás e não traga repercussão maior do que aquela nota de jornal.

Ainda não sou fã de Roberto Saviano porque não li o que ele escreveu. O que vi foi ele falando do que escreveu, o que não é a mesma coisa, mas já me deixou curiosa. Com esse post encerro qualquer papo sobre a Itália por um bom tempo. Vou voltar as minhas divagações cotidianas e com prazer, pois já saturei o assunto. Talvez não no blog, mas na minha cabeça, ooo,isso sim. Huahauhau

Para saber mais sobre o Roberto Saviano.

PS: Escrevi o texto antes da Conferência que acompanhei na Universidade do Porto. Vem mais um texto que fala da Itália por aí. Fazer o que. =P

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O assunto é fotografia

Foi muito bom poder ver tantas exposições de fotos. A primeira, da qual já falei, foi a do Stanley Kubrick, mas em Perúgia tiveram mais duas, que na verdade eram três.

Por causa do Festival aconteciam, em um mesmo espaço, a exposição de fotografias sobre os direitos das crianças e fotos do terremoto em Abruzzo sob a perpectiva de três repórteres, além disso uma coletânia com capas de jornais sobre a chegada do homem a Lua e pinturas de um cara que fazia cíticas a imprensa italiana.

Sei esta muito vago, mas é porque o mais importante vem agora: As fotos de Steve McCurry. Da premiada Menina Afegã, e provavelmente premiado por muitas outras.

Trabalhar na National Geografic é uma beleza, hein? Nunca vi tanta foto de lugares tão bonitos. Apesar de ter tantos retratos, tinham fotos com cenários maravilindos também.

O espaço era pequeno para tantas fotografias, um labirinto com painéis gigantes pendurados que desciam de um teto alto, em alturas disformes, com fotografias em ambos os lados. Havia temas como infância, guerra e vários outros que minha memória não me deixa lembrar.

Ao começar a caminhar e assistir as fotografias fiquei fascinada. Ia de uma para outra, de boca aberta. Tudo muito lindo, expressões faciais incríveis, momentos extraordinários. Então fui vendo sofrimento na face daquelas pequenas crianças de diversas etnias, com lágrimas nos olhos e roupas sujas e rasgadas.

E então vi armas em suas mãos, as vi trabalhando/posando para a foto e caiu a ficha. Principalmente quando vi um menininho apontando uma arma para sua própria cabeça. O objetivo das fotografias sobre a infância pode até ser chocar, e eu admito que fiquei chocada, mas com a falta de realismo.

Começei a ter um olhar diferenciado. Vi uma foto de um menino em que na legenda dizia Afeganistão. O menino, triste, sujo, com o olhar perdido pode muito bem ter sido fotografado em um estúdio de qualquer lugar do mundo. Sinceramente, me decepcionei, as primeiras fotos que vi retratavam uma realidade longe de meu alcançe, mas as últimas não.

Vi as datas das fotos que gostei e das que me enojei. As primeiras eram mais antigas. Então começei a viajar e vou colocar só parte da viagem, pois entrei em divagações, que como pessoa sem muita experiência e conhecimento em fotografia poderiam comprometer minha interpretação.

1º Quando se chega perto da foto Menina Afegã se vê o porque da dimensão que tomou. O olharda menina é fascinante. A foto tem cores vivas e mortas ao mesmo tempo. É lindo e irreal.
Nenhuma foto da exposição é parecida. Tem outro retrato de uma menina de túnica, e até está exposto bem perto , mas não se compara. Não tem o meu olhar sobre aqueles olhos.

2º As fotos de que não gostei vieram depois da menina. Será que o artista continuou a buscar em outros aquela expressão? Será que se perdeu em um desejo de repetição ao invés de buscar
novas essencias? Será que ele na verdade está a frente de mim e fez uma crítica aos fotojornalistas que expoem nas matérias suas vítimas sofredoras?

3º Pensei também na forma de captação. Será que tudo isso teve a influência da passagem do filme para o digital?

Bom, de tudo isso minha única certeza é que o documentário da National Geographic transmitido ao final da exposição é chato (Looking for the afghan girl). Eu não gosto de dizer que não gosto de alguma coisa sem conhecer, ou no caso, sem assistir inteiro pelo menos. Mas essa foi a segunda vez que não consigo ficar 15 minutos vendo alguma coisa. A primeira foi ao tentar assistir Os Excêntricos Tenenbaums.

O bom é que se você gostou do Tenenbaums pode ser que goste de procurar junto com o fotógrafo pela menina no meio de várias familias que diziam que algum parente era ela só para aparecer.

Ps: Well, burn me se não concordar. Mas eu estou aqui só viajando...me dou ao direito escrever textos com impressões pessoais (e parciais) em meu blog.


A fotografia Afghan Girl, infos e o trailer do documentário aqui.
Infos da exposição Steve McCurry. Sud-Est na Galeria Nacional da Umbria, em Perugia.

Mais infos do filme que citei aqui.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Perugia, festival e jornalismo italiano

Quando visitei Luxemburgo, eu e minhas amigas pensamos: "estamos realmente na Europa". Em Perugia pensei isso também. A diferença é que não era cidade de contos de fada. O centro histórico é bonito e fica no alto de um morro, então tem uma vista bacana.

A cidade estava movimentada por causa do Festival de Jornalismo, mas já está aconstumada com isso. Lá acontece todos os anos um dos principais festivais de música da Itália, por exemplo.

O bom é que dá pra conhecer a cidade rapidinho, e em pouco tempo de trem dá pra ir pra Assis e de ônibus para Gubbio. Além disso, andei de minimetro. É um metro-teleférico-minúsculo e ecológico. Era como subir elevador de shopping com vidro, que você vê o que está lá fora, beeem legal.

Agora sobre o festival, o motivo que me levou para lá, posso dizer que gostei mas, sinceramente, esperava mais. Parabés para o pessoal que organiza a Semana de Jornalismo, hehe, vocês são mais organizados que eles.

O que me incomodou é que palestras com grande coro foram colocadas no mesmo dia e em horários que chocavam, enquanto outros dias ficaram bem lights. Ao mesmo tempo aconteceu uma mesa de discussão sobre a Máfia e outra sobre o Berlusconi.

A escolha das salas no meu ponto de vista também não foi acertada, muitas vezes uma mesa importante ficava em um espaço pequeno enquanto um tema x ficava numa sala grande (e vazia).

Me surpreendi foi com o público. Os voluntários entregavam o microfone na mão de quem ia fazer perguntas. As pessoas perguntavam e devolviam o microfone! Huhauahauh Achei isso demais!

Os principais temas abordados durante o evento, pelo menos nos dias em que estava lá, foram máfia, jornalismo investigativo (desde como fazer, a sua importância e os novos modelos), cobertura de guerra e Oriente Médio. Jornalismo colaborativo e novos media também, mas isso é pauta em todo canto.

Eu estava lá como observadora externa, e isso foi bem interessante. Passei a entender um pouco mais das problemáticas que eles enfrentam e cheguei as minhas conclusões .

O jornalismo italiano é a caricatura dos problemas que temos no jornalismo. Digamos que aquilo o que sabemos que existe na imprensa brasileira, e já achamos que é descarado, lá é mais ainda. Empresas de televisão contaminadas ideologicamente, jornais impressos de alguma corrente sem assumir, meias verdades. Tudo muito exagerado.

Anotei algumas frases bem interessantes que ouvi nas palestras. São frases soltas e fora de contexto, ok? Ficam só para o registro. E para entenderem um pouco da minha reação ao que eu ouvia, afinal, vou expor minhas anotações...algumas sei quem disse, outras cheguei um pouco atrasada e perdi a apresentação (news).

"O problema na Itália é que não há divisão entre os jornais sérios e os sensacionalistas".

"Neste país você pode escrever sobre o que quiser que não vai mudar nada."

"A senhora citou o problema do século: o problema entre a pedagogia e a demagogia."

"Isso é o que o público quer. Esse é um clichê que virou justificativa para muitas empresas".

"O que me diverte e me horroriza é o ´jornalismo Sarebbe´ italiano". (Depois de muito achar, e de pedir um helps aos universitários, penso que seja Achismo)

"Berlusconi não é uma anomalia italiana. É fruto de uma série de anomalias italianas."

"Bersulsconi não é a causa mas o produto do problema da televisão italiana. Das questões políticas por trás da televisão".

"Ele (Berlusconi) mudou sutilmente tanto a linguagem quanto a forma do italiano ver televisão."
John Hooper

"Já trabalhei em mais de trinta países e nunca vi em um TG(jornal) o diretor ter o direito de fazer um editorial numa emissora pública". John Hooper

"Nesse país ou você está a nosso favor ou está contra nós. Eu com certeza estou contra todos!" Paolo Madron


PS: Nadinha atualizada...já escrevi alguns textos, mas posto este primeiro (tem mais dois na sequência) e depois volto aos assuntos cotidianos...Hehe
PS: Odeio corretor ortográfico que não segue as novas normas!! Huhauahau

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Em Assis como Franciso (ou primeira viagem iconográfica)

E eu sou apenas um rapaz latino americano SEM dinheiro no bolso...Ou melhor, com dois centimos no moedeiro. E uma moeda verde de liberar carrinho de supermercado. Para saber o que me anconteceu em Assis fique a vontade para ler a conversa que tive sobre o ocorrido.

Assis é linda demais! Me senti super a vontade e segura depois que meus problemas se resolveram parcialmente. As ruas eram uma graça, as casas, as flores, as árvores, o barulho dos pássaros. O albergue onde fiquei tinha como acesso uma estradinha de chão com cheiro de campo. Muito gostoso.

Sem falar na Basícilica de São Francisco, que é linda. As pinturas nas capelas inferior e superior, os afrescos de Giotto, com um quê de bizantinas sem ser, muito lindo.

Eis que caminho para o altar da capela superior da basílica e vejo algo intrigante ao lado direito. Uma pintura com um homem pregado numa cruz de ponta cabeça, rodeado por uma pirâmide e por outra construção monumental com uma árvore em cima. Soldados, mulheres. Bizarro!

Curiosa perguntei para o padre que me disse que era a Cruxificação de São Pedro, que não se via no direito de morrer como seu mestre, e por isso foi pregado de ponta cabeça. Mas sobre a pirâmide ele não sabia e o segurança foi procurar no livro das pinturas. E nada lá também.

Isso mexeu de um jeito com a minha curiosidade que trouxe a dúvida pra casa. A fonte é apócrifa, porque ninguém no Novo Testamento presenciou a morte de Pedro. Encontrei referencia na Legenda Áurea (é como que um dicionário com as datas cristãs em comemoração a santos, eventos...e também orienta sobre as histórias a serem retradas nas pinturas) e estava lá! Eee

Mas nada das pirâmides...só sei que o mais provável é que ele tenha morrido em Roma...e que sua morte tem a ver com ele ter desmascarado um mago do mal e que o imperador Nero era louco de pedra. Hueuheuehua

Minha primeira viagem iconográfica! Vou continuar minha busca por respostas e quando encontrar coloco o resultado em ps, ok?

sábado, 8 de maio de 2010

Hein, me conta q q aconteceu na sua voyage

Essa frase me perseguiu durante alguns dias depois que voltei da Itália. Contei tantas vezes para tantas pessoas e demorava tanto que resolvi fazer um copiar e colar aqui no blog.

Peço licença poética para vocês, mas o que verão aqui é um diálogo puro, sem acentos, com erros de português e tudo o mais que uma simples conversa de msn/skype/similares nos permitem.

D é a pessoa com quem conversei e M sou eu! =D
Divirtam-se com minha desgraça, eu deixo:



D: hein, me conta q q aconteceu na sua voyage
vc falou assim q aconteceu um monte de coisas na sua viagem da itália
kkkk

M: bom
vou fazer um apanhado geral
pra nao demorar muito, ok?
uahuahauauha

começou que fui 3 dias depois por causa da nuvem da islandia
fui pra milao, conheci a amiga do meu pai e no dia 23 fui pra um festival de jornalismo
em perugia
no ultimo dia do festival resolvi passar o dia na cidade de assis, (do sao francisco de
assis)

D: humm...

M: dai o caixa eletronico literalmente comeu meu cartao!
D: nooooossaaaaaaaaaaaaa.....

M: tipo, dizia pra tirar o cartao em 30 segundos, e eu entendi depois de 30 segundos
D: nunca vi isso, mas morro de medo
kkkkk
M: dai fiquei na cidade, sem ter dinheiro, sem cartao, sem ter albergue reservado
uahauauahau

D: aí ela engoliu e não devolveu?

M: nao!
e era domingo
D: nossa mari
q q vc fez?

M: o banco tava fechado, tive que esperar ate segunda de manha (que era o dia que eu
voltava pra casa)
pra pegar o cartao de volta

D: e vc dormiu debaixo da ponte?

M: uhauhauahauh
nao, nao
eu tinha credito no celular
dai liguei pra mae

D: kkkk
q sorte

M: aham
ela conseguiu o endereço de uma pousada da juventude
a minha sorte é que quando cheguei na pousada descobri que eu tinha levado o cartao
antigo
(que tava sem dinheiro)
dai voltei pra cidade e tirei dinheiro no credito
ufa
depois foi mais facil
ahuauahuah

D: nossa mari...
M: aham!
D: credo, mais difícil q isso
!!
M: e tipo, minha bagagem tinha ficado em perugia
D: =/

M: dai eu tinha que dormir em assis, esperar o banco abrir, pegar o cartao, ir de trem pra
perugia

D: e pegar vôo de lá?
M: pegar a mochila, pegar um trem pra firenze e la pegar um trem pra pisa porque meu voo
saia de la
só que só tem trem saindo de 2 em 2 horas de perugia
uahuauah
dai cheguei no aeroporto 17h25
e meu voo saiu as 17h, tinha que estar 16h30 no aeroporto...
uhauahauha

D: ihhhhhhhh
e aí?
M: perdi o voo!! uahauahu
o mais barato era voltar de pisa mesmo no dia 30
e era o proximo voo de la
ou entao voltava por milao pela easyjet
mas ficar passeando ate dia 30 saia mais barato do que voltar pra milao e voar dia 27 ou
28
meio que decidi ficar ate dia 30, mas nao comprei passagem
e voltei pra cidade de pisa
D: ¬¬
M: e fiquei na ferroviária vendo o que ia fazer, mas o tempo passou muito rapido

D: deu problema de novo né?
M: aham!
ficou tarde, e nao dava mais pra sair da cidade
D: aiiiii Mariiiiiiiiiiiii
kkkkkk....
M: falei com o cara da bilheteria
e ele disse que em pisa tinha uma pousada da juventude
peguei o penultimo onibus que ia pra la
e perguntei pro motorista qual a paragem pra o albergue da juventude, e ele disse que era
a mesma que o cara da bilheteria disse
quando desci nao vi a pousada e fui perguntar numa pizzaria

eles disseram: "nossa! é daquia 2km!...
D: (vc tava falando td em italiano?)
M: aham!
...mas é muito perigoso ir até lá agora"
ahauahauh
D: q gracinha!
hehehe

Mariana: éé´
yaauahuah
só que nao adiantava
D: ahm, aí vc fez o q?
kkkkkkkkk
M: eu tive que andar 2km a noite, na beira da estrada, sozinha
numa área meio deserta/meio perigosa
eu ja tinha andado um tanto que achei que era 2km
e nao chegava a pousada nunca
toquei a campainha de uma casa

e o senhor me disse: "a pousada ERA aqui do lado" e me mostrou
mas fechou vai fazer 2 meses"
"fique tranquila! daqui a 15, 20 minutos passa um onibus e te leva para o centro da cidade!"
o onibus passava em 40 minutos
e tava bem escuro, e era o ultimo onibus! mas antes de ele passar
passou um taxi e parou, ainda bem!
dai o cara me levou pra um bed and breakfast, tipo uma pousada
e pronto, fiquei mais segura
mas resolvi que no dia seguinte voltava pra milao

D: q era de onde saia o vôo?
M: aham
comprei a passagem
e tentei o dia inteiro falar com a amiga do pai
ela e o marido estavam viajando, mas a meia noite voltavam daquele dia
e nao conseguia ligar, sempre dava fora de area
e mensagem nao respondiam

D: e vc ia dormir lá na amiga dele?
M: aham
é pq eles tinham que pegar 2 voos antes de voltar
cheguei em milao 23h20
e achei inseguro esperar na ferroviaria
dai peguei um taxi pra ir pra pousada da juventude em milao (que eu sei que existe!)
auhauahaua

D: kkkkkk
M: mandei uma mensagem pra dizer pra ela e foi quando ela tava ligando o celular, dai ela
me ligou
e pedi pro taxi mudar de rumo e me deixar na casa dela
e pronto! no dia seguinte
cheguei no aerporto 10 minutos pra terminar o check-in
uahauhauahuha
mas consegui voltar pra porto!

D: nossa, qse perde o vôo de novo
e aí td bem?
ou aconteceu mais alguma coisa?

M: nao, nao
cheguei bem em casa
hauahauauah
ah! o onibus teve problema eletrico depois que saiu do aeroporto de porto

D: hehehe
D: kkkkkkkkkk
M: mas isso levou 15 minutos só
auhahauahuah
ai ai

D: é, perto de tds os seus problemas não foi nada
M: não, não
uahahauah

D: nossa, mari...aconteceu de td com vc lá então

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Stanley antes de ser Kubrick

*Adotando o título do caderno Ípsilon do Público (caderno b do jornal de maior repercussão em Portugal) e a quem devo agradecer imenso por falar de eventos no exterior.

Pra quem for pra Milão até o dia quatro de julho saiba que rola por lá, no Palazzo della Ragione (bem próximo ao Duomo) uma exposição fotográfica de Stanley Kubrick, diretor de Laranja Mecânica.

São fotos de 1945 a 1950, quando o cara trabalhava para a revista Look, ainda bem jovem.

Me falaram que um professor meu disse que os filmes são feitos de pinturas. Se você pára uma cena bem feita, ta ali um quadro propriamente dito. Faltei a essa aula, mas foi isso que vi no trabalho de Kubrick, mas ao contrário.

As fotografias não são espontâneas. É evidente a montagem, mas isso não é ruim. É o seu diferencial. Cada fotografia conta uma história e os conjuntos de fotos outra, com direito não só aos personagens e as situações vividas, dá pra ver o que se sente, sem parecer proposital. São olhares, gestos. Novelas.

As fotografias são cinematográficas. Tem uma emoção fictícia que te envolve.

Não gostei da montagem da exposição. Não te deixava a vontade, tinha um circuito com as foto-reportagens, mas era bagunçado. Você precisava ir por um caminho, e mesmo assim, uma série de fotos passava para outra e era preciso voltar para entender que uma tinha acabado e outra começado.

As vezes de um lado e de outro de um painel tinham fotos de um mesmo tema, no outro já trazia um tema de cada lado. Confuso, nada prático e interrompia a atmosfera das fotografias. Era preciso esforço para ficar lá por muito tempo. Sei disso porque depois que entrei lá, vi todos indo embora antes de mim.Uma pena.

Outra chatice foi a minha foto preferida não ter cartão postal. A id aqui esqueceu de anotar o nome para procurar...

A matéria do Público ta legal e mais completa que isso aqui. Vale a pena ler. Mas a opinião sobre as fotografias está diferente da minha...ta muito com cara de quem leu release e não viu.

Sobre a exposição o preço é oito euros, e a reduzida sete. Chegando a praça do Duomo é só seguir os cartazes com o Kubrick novinho que se chega lá. Mais infos da exposição aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Milão (sem paciência para criar título decente)

Depois de muito tempo, eis aqui um post sobre viagem de verdade! E não será o único, resolvi dividir minha epopeia pela Itália. Vão ter posts sobre lugares novos, exposições, um festival legal e mal organizado e quase tragédias.

Tudo começou quando a minha ida para Milano foi adiada.
A fabulosa nuvem da Islândia fez com que todos os aeroportos do norte da Itália fossem fechados por uns dias. Meu voo foi cancelado e perdi três dias alegres e contentes viajando por aí. Mas tudo bem.

A incerteza quando fui era tão grande, que mesmo quando fui mudar a data da passagem não sabiam me dizer se já poderia voar. Minha mochila ficou pronta três horas antes do embarque, mas no fim, ufa, consegui me mandar!

Milão é uma princesa. Delicada e snobe. Mas sua personalidade forte me cativou. Costumo dar cores para as cidades (Roma é ocre, Paris amarela, Lisboa azul) mas essa não percebi, então perguntei.
É como se fosse um ocre clarinho então.

Tomei meu primeiro sorvete italiano e conheci uma amigona do meu pai. Isso já valeu a viagem. Fui super bem recebida, com direito a ir em inauguração de exposição em galeria famosa e tudo. Huhu

Além disso é bem fácil se virar na cidade. Não tive muito tempo para passear, então fiquei pelos pontos principais, como o Duomo e a Galeria Lafayette.

Dicas da Mari:
*No terraço da loja de departamentos Renaissance tem uma vista legal da parte superior do Duomo.

* Vale a pena visitar a livraria La Feltrinelli, dentro da Galeria Lafayette. Não tem muita opção de livros de jornalismo, mas wtf, tem um acervo beeem massa de todas as outras coisas...O que achei super interessante foi a prateleira de livros históricos, nunca vi tanto livro sobre Hitler na vida...bateu até um medinho. Hehe

*Para quem gosta de arte, conheci a revista Flash Art, que tem pra vender lá em Milão. Tem crítica mesmo, isso já ta virando raridade. É ótima.

*E pra finalizar, o bairro Brera, na região universitária, é bem gostosinho pra visitar no fim da tarde. Dá pra dar uma olhada nas galerias e depois ir pra um barzinho legal.

PS: Resolvi manter o lead inicial do meu texto, mas a epopeia vai ser reduzida. Vi que escrever depois que a viagem já passou e de ter contato tudo pra muita gente torna entediante.
PS 2: Fiquei feliz por ter dois leitores! Iei! =D Apesar de saber que posso perdê-los depois do texto de péssima qualidade acima. Huahuahuh

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Impressões sobre PSYCHO

Finalmente assisti o meu primeiro dos clássicos suspenses do grande mestre nessa arte. Sempre evitei os suspenses, pois estes muitas vezes perdem-se no terror e pra mim perdem a graça. Os suspenses não tem que assustar, tem de nos roubar o sono e a atenção.

Para um suspense bastar-se nele mesmo não é preciso o medo do improvável, você já sabe que o improvável existe, nada é enigmático o suficiente para que não passe despercebido. Descomplicando o que escrevi, nada é impossível.

Pode tudo acontecer, você fica tão vidrado no que vê, ouve e sente que os maiores absurdos tornam-se aceitáveis, passam despercebidos em meio a rede criada.

Não sei se é porque já vi a cena do assassinato no chuveiro, ou porque já vi tantos trechos inspirados nesse filme, mas ele até é bem previsível.

Pelos sorrisos, inquietação e pelo título já estamos pré parados para saber o que se passa.
Não deixa de ser um excelente suspense. Seria um disparate eu, na minha humilde análise de um clássico, menosprezá-lo. Adorei o filme, mas ele é previsível.

Não pude deixar de sentir vontade de rir. A câmera por vezes foca em detalhes. Se eu fosse fazer uma releitura, com certeza, adicionaria uma pitadela de comédia.

Os detalhes eram tão perfeitos, tão apáticos, que mereciam sair da normalidade. Mereciam algo de errado, algo fora do lugar. Havia tanta delicadeza e cuidado que, para a história ser recontada, ficaria melhor desconstruída.

Um bom exemplo de reconstrução envolve o quadro favorito de meu avô e o autor de Guernica. Picasso fez uma p... releitura de As Meninas de Velasquez. Na verdade foram releituras no plural, anos de análises e reconstrução.

Velasquez é tão super que para ter seu quadro mais famoso revisto, só por
uma proposta que, em primeira vista, fosse muito diferente. Picasso trouxe
a comédia ao suspense, o terror não caberia.

Voltando a Terra, e ao filme que assisti, o fato de ser em preto e branco é um espetáculo. A cores o filme não seria tão fora de série, pode escrever. A graça está nas tonalidades griz. É o cinza quem ajuda a esconder as identidades previsíveis.

A trilha sonora já amava antes de assistir, hehe. Se tem algo que sei valorizar é uma boa sonoplastia. E não por conhecimento, é porque minha memória (a pouca que ainda tenho) é sonora. Os sons me envolvem facilmente.

Em Psicose toda a emoção é aflorada em sons. Toda. Não só o assassinato da atriz que mÓrreu a alguns meses com medo de chuveiro. Os compassos ditam o ritmo do filme. Denunciam o que está por vir.

Talvez seja por isso que previ, não querendo prever, o que vinha adiante. A música entrega tudo. Mais do que os olhos atentos, os ouvidos são importantes ferramentas para observar um filme, e ainda mais, um suspense.

Em que cada passo, cada respiro, cada porta, cada assoalho de madeira, cada tecido e o vento na janela ambientam não só a cena, mas as consequências dela nos sucessivos eventos.

Já escrevi muito, e não faço suspense suficiente em meus textos para que fiquem atraentes até as últimas palavras. Isso somado a ausência de ligação do que escrevo com o propósito do blog (viagens!) transformam a sua leitura em quase impossível.

Vou escrever mais sobre viagens de verdade. Não prometo, mas vou tentar. =)

Mais infos sobre o filme Psicose de Alfred Hitchcock aqui.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mãe, vou ser jornalista

Asssisti pela primeira vez Todos os homens do presidente. Seria um filme normal, em uma noite normal em que eu, sem vontade de dormir resolvo matar o tempo com besteiras e pipocas na cabeça. Normal se não fosse um tempo que poderia utilizar para fazer meu trabalho atrasado de um mês, normal se o filme não me abrisse os olhos e me metesse medo.

Em fato o filme conta a história do maior furo de reportagem dos EstadosUnidos, o Caso Watergate, que desmenbra um big esquema da campanha de reeleição do presidente Nixon. Um grande e trabalhoso trabalho de investigação, cheio das fontes milagrosas e listas de possíveis fontes, como contam os professores que era na redação.

Para mim já seria interessante isso, poderia ser até um daqueles documentários com entrevistados falando de forma pausada e fumando charuto, mas a todo um lado de suspense hollywoodiano que me encanta. Adoro um bom suspense, e esse é um deles.

Ter meu ator-clássico favorito como um dos protagonistas também ajudou um bocado para que eu devorasse o filme, Dustin Hoffmann esteve ótimo, entre um cigarro e um café-de-fonte e outro. O outro ator eu ainda não conhecia, minha voracidade cinéfila é recente, não me condenem.

Mas foi através do olhar do outro, Robert Redford, que cheguei a conclusão pessoal de p... merda, eu sei o que quero. Foi através dos olhos a brilhare tentar esconder a emoção. Foi saber o que ele sentia. Foi entender o quanto isso era esperado e que nada naquele momento seria mais agradável e palpitante do que perceber nas palavras de alguém A história.

Sei exatamente que é isso o que quero sentir em toda a minha vida. Todas as dúvidas, e intempéries que me rodeiam desde o começo do caminho acadêmico foram anuladas. Nunca as tive. Eu sempre soube o que queria. O medo as criou para que eu pudesse buscar alternativas.

Para que eu encontrasse outra coisa para fazer, algo mais seguro, mais estável, menos frustrante.

O mais bizarro e forjado em conciência é que começei a assistir no dia do jornalista. Que piada de mau gosto. Não vou mentir que foi minha segunda opção, mas certamente um dos meus eus deve ter calculado esse pimba! toma essa garota! Encara de frente esse leão vestido de medo e arranca a sua cabeça!

Pena estar sem internet para publicar agora, 01h53 no horário de Porto. Seria muito mais interessante, sem contar o fato de que no Brésil não são nem dez da noite e todos estão acordados. Talvez seja melhor assim.

Quem sabe tudo não passa de empolgação por um bom filme. Quem sabe é tão bom que todos querem sair com uma caneta e um bloquinho e gritar SOU JORNALISTA!

E todos podem, pelo menos no Brasil.

Assistam e me digam se é isso mesmo.
Quem já assistiu me diz também?


Mais infos do filme aqui

sábado, 3 de abril de 2010

Se a demissão não vai até Mariana, Mariana se demite

E foi isso o que aconteceu em uma quinta-feira chuvosa de Porto. Mariana cansou de atender ligações de forma educada em um português brasileiro e pediu as contas. Escrito assim perde um pouco da graça. Vou começar a história do começo. Prometo que vou tentar ser breve, ok?

Então vamos lá.

Era uma vez uma menina (porque todas as mulheres entre os 5 e os 50 em Portugal são chamadas assim) que tinha dois patinhos de idade e estava completamente perdida em um lugar estranho. Não sabia o que estudar, onde morar e nem como ganhar dinheiro.

Foi quando ela ligou seu notebook e procurou por empregos. Genial. Google e seus amiguinhos mostrando oportunidades. Depois de conferir as últimas fotos, ler vários mini leads de menos de 140 caractéres de colegas sobre o fim das férias e recusar uns três convites para abrir uma fazendinha, a menina encontrou um anúncio que gostou bastante.

Você, que é ambicioso, comunicativo e criativo e quer ganhar uma graninha não perca esta oportunidade! São apenas quatro horas diárias, segunda a sexta, e fora do horário de estudos. Entre em contato conosco! Uhul!

Uau. Era isso mesmo o que era preciso.

A menina dos dois patinhos logo telefonou, marcou hora, passou pela entrevista, passou pela semana de teste e estranhamente já estava assinando um papel. Tudo foi tão rápido que não durou um mês inteiro. Mas não deu certo.

O comunicativo era pra falar por quatro horas pelo telefone. Isso tudo certo, a menina já havia se acostumado com esse artigo tecnológico a uns dois anos quando atendia ouvintes em um programa de rádio. O criativo era pra saber inovar e cativar cada cliente, eram as vendas pensando em cada tipo de pessoa. E isso foi difícil. Vender nunca tinha vendido. Guardem segredo, a menina vendia as rifas da escola para parentes.

O que pegou foi o ambicioso. Todos os dias essa palavra brigava com a menina e a intrigava. Ela recusava-se a tratar todos do outro lado da linha como possíveis clientes e nada mais. E isso não está certo, não pra quem quer vender. Portanto estava errada em um mundo certo, mas não para ela.

Mas tudo foi tão rápido e tão longo. Tão fácil e tão custoso. Tão agradável e tão enojado, que não houve mais espaço para tentativas. A menina tomou coragem e disse que não queria mais. E foi o fim. O fim de um começo em um emprego bacana, só que não para ela. Recompensador, mas não para ela. Um ambiente de trabalho e colegas queridos, mas que não reconfortavam a pressão da palavra ambição.

Depois de dizer tchau, deixar anotações e abrir a porta ao mesmo tempo que lembrava-se do guarda-chuva no cesto, e voltar para buscá-lo, o sorriso voltou ao seu rosto. A palavra temida vai ter que aguardar mais um pouco e a menina fez parar a chuva. Mandou mensagem internacional, ligou para seu amigo e olhou para um belo arco-íris, tão clichê e verdadeiro quanto escrever que isso é clichê e verdadeiro.

Fim
See ya

segunda-feira, 15 de março de 2010

Desabafo não religioso

Nessa noite tenebrosa de um sábado desperdiçado, afinal, se não é para orar ou manifestar a vontade de um todo poderoso, não se pode fazer nada, resolvi fazer algo de útil para preencher algo que não sei se é vazio.

Resolvi escrever parafernalhas que esqueci que era capaz de fazer. E não me digam que aprendemos a escrever isso na faculdade porque não é verdade. A criatividade dos textos jornalísticos limita-se ao tema e aos caracteres disponíveis.

Por falar em verdade, criatividade, e todas as palavras com sufixo parecido, me lembrei do meu atual desafio: mastigar todos os papos pseudo-religiosos e bíblicos que me bombardeiam todos os dias. A bíblia é sagrada, sobreviveu a milênios, assim como as histórias que traz, escritas por homens de bem e do bem, dizendo que foram amigos de Jesus, e antes disso, que sabiam da
sua chegada.

O que as pessoas de cunho religioso (para parafrasear o costume do meu querido curso de jornalismo, que adota cunhos as turmas recém chegadas) precisavam saber é que para "estudar a bíblia" é preciso conhecê-la, desde sua origem, e como livro, não como mero repositório da palavra divina.

A bíblia é tão duradoura porque? Porque Deus assim quis? Essa resposta já satisfaz? Olha, isso não me basta. Preciso saber qual sua data de surgimento aproximada. E as milhões de traduções ocorreram em que contexto? Porque esses textos foram selecionados e não outros? E as histórias que a Bíblia traz, muitas são anteriores ao próprio livro, como foram organizadas? E suas influências?

Platão escrever em A República (O livro da parábola da caverna, das pessoas presas dentro dela viradas para uma parede...tente puxar na lembrança a sua aula de filosofia do ensino médio, ou não) a respeito de um mundo visível e um mundo inteligível, ou seja, uma realidade a qual percebemos de cara e uma outra utópica e de difícil acesso, me soa muito parecido com tudo isso de justiça divina e escolhidos e céu e tantas outras palavrinhas rebuscadas.

É muito fácil criar uma verdade única, indissociável e onipotente perante a toda uma vida terrena e sem brindes ou lembrancinhas. Imaginar um Deus Papai Noel, que vai te dar um presentinho no final dos tempos, a vida eterna, mas que para recebê-lo é preciso se comportar direitinho!Não só durante o ano, mas por toda a sua vida!

Justificar todos os fracassos, escolhas erradas, desânimo com a vida, infelicidade e, por que não, para usar uma expressão modernosa, depressão, com o desapego pelos sentimentos terrenos e esperança da volta de Jesus Cristo. Não preocupe-se em ser feliz agora, sua vida pode ser um tédio, mas não faças nada para ser feliz, logo o show acaba e não haverá mais tristezas! Porque o fim do mundo está próximo e serais salvo!

Agora me diga, saída fácil essa não? Acreditar em Deus eu acredito, e olhe que há quem não admita, mas daí para acreditar em tudo o que me dizem que está escrito em um livro sem eu ler nem mesmo a tradução, quiçá o original, já é um pouco demais.

Se Deus é tão onipresente, onipotente e nos ama, é óbvio que ele quer a nossa felicidade. Se de brinde no fim do mundo vai nos dar a vida eterna, penso que o critério deveria ser valorizar aqueles que dão real valor a sua vida. Viver a esperar não é viver, me desculpe, é sobreviver. Deixar de ter sonhos nessa vida ao sonhar com outra vida é adiar o maior milagre que Ele nos dá. Acordar todos os dias com a esperança de um maravilhoso recomeço de 24 horas.

Não há idade, sexo, traumas, tumultos, conflitos, estatura, defeitos que nos impeçam de acordar para um novo dia, ou de não acordar e ver a noite passar, bem ou mal acompanhado.

Encarar a vida como um faz de conta que precede um sonho-realidade é menosprezar um grande presente. É não valorizar as pequenas coisas, é não respeitar as pessoas em suas diversas crenças. É impor uma verdade a quem tem outra, ou até mesmo outras. É tentar esquecer as desavenças sofridas da forma mais terrível que há, negando a sua identidade. Assumindo para si palavras que não lhe pertencem.

As frases de efeito como Ame ao próximo como a ti mesmo precisam ser sentidas, e não aceitas da forma com que alguém disse, leu, escreveu, proclamou que deveria ser.

O meu desabafo não é em vão. Eu creio em um ser superior, um espírito de paz e harmonia que rege o universo. Não vou ser hipócrita e negar minhas verdades para soar bem. Acredito em Deus, tenho fé, e tenho orgulho disso. Ou não tenho orgulho, para não usar uma palavra forte, mas sinto a energia de Deus em meu coração representativo.

O que não aceito é tentarem me converter com medos e ameaças impensadas, incumbidos e embutidos em rostos simpáticos e tentativas bonitas, mas infortunas de salvar o próximo. Não aceito ser privada de me sentir bem ao viver neste e não em outro mundo. E acima de tudo, de tentar fechar meus olhos para enxergar apenas uma versão dos fatos, quando sabemos que não há apenas duas (a do bem e a do mal), seja qual for a situação.

Infância superada

Eu que vivo falando em aceitar limitações e trabalhar para superá-las (isso pra quem me conhece o suficiente para saber que apesar de ter um parafuso solto sou legal), me percebi jogando essa teoria na merda no dia de hoje.

Imaginem uma mulher, nos seus vinte e poucos anos, a brincar com rapazotes de dez anos. E não só brincar de futebol, ou videogame. Mas joguinhos mais bobinhos, estilo elefante colorido português.

Ê laiá. Foi a farra. Era uma bola daquelas pequenas colecionáveis que se ganha em promoção de posto de gasolina, três muleques e uma atrapalhada a correr. Só de me imaginar nessa cena já vejo que não poderia dar certo. Mas é que estava frio, um vento de gelar a espinha e eu precisava me movimentar.

Eu corri, pulei, dei gargalhadas, falei "isso não vale", e o gran finale, como acontece também em todos os flashback de minha infância, me machuquei. Eeee. Não bastava recordar as brincadeiras, isso seria pouco. Eu precisava sentir na pele a emoção de ser criança.

E não só na pele, mas no sobrecilho.

Os quatro correndo, quando no elefante colorido português chamam a cor do meu amiguinho. O problema é que eu estava entre ele e a bola. Eu queria fugir, ele queria a redonda. Isso não teria problemas em qualquer outro momento. Mas quando duas crianças cabeça duras, determinadas e ansiosas se cruzam, grandes pancadas podem acontecer.

De repente me vi caída ao chão, com uma dor cortante sobre o olho, e gritando "acabou a brincadeira". Acordei então do sonho impossível com a certeza de que esse tempo acabou.E ainda bem.

PS: Essa notícia é antiga, para manter a desatualização do blog. Isso foi no sábado e meu olho continua roxo. BEM legal!

sábado, 13 de março de 2010

Estou sim

Muito boa noite, fala Mariana Justina.
É possível falar com o leitor de plantão do blog abandonado?
Ah, ele não se encontra...e há alguém responsável pela leitura com quem eu possa conversar?
Não? Certo...em que outro dia posso entrar em contaCto?
Está bem, volto a escrever na próxima semana. Com licença.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um título com vírgula, só com verbo de ligação, que não diz nada e é muito longo

Faraó pediu para eu escrever mais e eu obedeci. O título da postagem deveria ser de volta do abandono dois, mas me recuso, de verdade. Hehe

Tenho viajado muito em pensamentos nos últimos dias, e posso dizer que o que não cresci em seis meses com certeza cresci nas últimas três semanas. Sabe aquela história tudo novo, de novo? Resolvi prolongar minha temporada em Porto, mudei de casa, mudei de estilo de disciplinas, estou trabalhando...um recomeço em terra distante.

Mas apesar de todo o turbilhão emocinal pelo qual passei estou com mais tempo para refletir. Talvez porque a viagem do ônibus até o centro esteja mais demorada - ou porque estou estudando coisas como as interpretações simbólicas de obras de arte do renascimento, haha - só sei que o nada sei é meu atual estado de espírito.

Há três semanas parei para escrever o que me fazia ficar e o que me fazia voltar. Pode parecer ridículo, mas seis meses em uma cidade como Porto, passando a maior parte de um monótono inverno, não são fáceis. E não é só saudade, é o clima, são as pessoas, tudo vai aos poucos cansando e bate a vontade de deixar isso para trás. Mas sem enrolações, no que escrevi em minhas listas, percebi que não havia motivo para eu ficar.

E isso me intrigou de um jeito que parei, pensei e cheguei a conclusão que eu não é porque eu não via os motivos que eles não existam. E começou aí minha jornada rumo ao autoconhecimneto. Huhauahauh

Talvez seja um espaço vazio entre momentos importantes, ou apenas uma pausa na correria que vivo a muito tempo. Um tempo para mim e para mais ninguém, ou então algo maior que ainda não sei. Talvez eu precise saber como é viver sem objetivos delimitados, vai saber. Eu não sei.

Só sei que, como disse para o meu amigo João no dia de ontem, tenho mais medo de não mudar do que da própria mudança. E isso ajuda a encarar de frente os novos desafios. Apesar de me deixar mais entediante.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

De volta depois do abandono

O semestre foi interminável. Essa é minha melhor justificativa para ter me desligado por tanto tempo desse blog. Não que eu não tivesse tempo de escrever se fizesse um esforço, mas no tempo que me sobrava entre uma virada de noite e outra fazendo trabalhos eu preferia me dedicar as viagens.

Afinal, esse é o motivo pelo qual resolvi criar esse espaço aqui. Não faria sentido eu escrever apenas sobre divagações sem ir para a prática! Hehe

Estou oficialmente de férias desde o meu aniversário, dia 23 de janeiro, e a próxima semana será dedicada as preocupações com o que farei da vida de março a julho de 2010. Desde trabalho, moradia, estudos...uma doideira. Mas isso me garante que vou ter tempo pelo menos de escrever um pouco sobre as viagens que já fiz.

Fiquei tanto tempo sem atualizar que não falei das principais viagens, como Londres, Madri, e a viagem de fim de ano. Isso sem falar nos passeios por terras lusas, nas descobertas dentro de Porto e das insessantes risadas com as meninas aqui de casa. Infelizmente pela distancia temporal talvez meu retrato das situações não fique tão fiel e tão empolgante quanto foi.

O grande problema é que nem vou poder prometer que no próximo semestre será diferente, que vou escrever mais sobre as minhas viagens, figuradas ou não. Está tudo tão incerto que prefiro me abster de escrever a respeito! Haha Pelo menos nos próximos dias quero me dedicar a esse espaço aqui.

Só não prometo bons textos. Depois de um semestre inteiro sem escrever matérias, sem fazer reportagens e mesmo sem o clima jornalístico da UFSC me sinto um tanto quanto enferrujada.