domingo, 23 de maio de 2010

Roberto Saviano, aquele que não vi em Perugia

O acontecimento mais importante do Festival Internacional de Jornalismo Perugia não estava na programação. Não sei se por segurança, se para fazer surpresa ou porque foi de última hora. Talvez as três coisas, ou nenhuma delas, só estou a especular, o certo é que Roberto Saviano esteve em entrevista e falou sobre a máfia e eu não fui assistir.

Fiquei sabendo disso pela televisão de um quarto da pousada que dormi em Pisa (é, a chicosa aqui dormiu em quarto com cama de casal, televisão e toalhas, mas foi merecido. Dá uma lida aqui), dois dias depois que deixei Perugia. Foi frustrante.

A minha sorte é que ganhei um dvd com uma palestra e um monólogo de Saviano a respeito de "Parola contro Comorra". Então foi possível assistir, ouvir e me impressionar no conforto da minha casinha. Ótimo, mas óbvio que não é suficiente. O próximo passo é comprar o livro (porque sei que emprestado não será possível).

E eu aqui falando sobre ele como se todos o conhecessem. Bom, confesso que o conheço a muito pouco tempo, e bem por acaso. Fiquei sabendo de sua existência poucos dias antes do festival, enquanto conversava (e apanhava porque vi que me falta fundamento) sobre política com uma amiga italiana.

Saviano é um dos escritores que denunciam a máfia italiana. Não só denunciam, mas procuram difundir o que acontece no sul da Itália, muitas vezes abafado em panos quentes, ou por causa do poder paralelo exercido contra quem denuncia, ou mesmo pelo fato de não revelar os problemas internos para o mundo.

Uma forma de deixar exposto também o próprio jornalismo italiano, que se sujeita a publicar difamações a respeito dos que denunciam e prefere destacar o sentimento dos "boss" ao das vítimas daquilo o que o autor considera uma guerra.

Depois de assistir ao dvd consegui entender um pouco melhor a frase que ouvi em uma mesa de discussão do festival em que um jornalista falava a respeito do jornalismo "sarebbe". Esse sarebbe, seria, talvez, parece, quem sabe(...) A incerteza dá espaço para a incredibilidade. Abre espaço a publicar questionamentos de índole sem que isso precise de confirmação.

E retorno ao jornalismo brasileiro (novamente a caricatura dos problemas) quando fala da morte de jovens usuários de drogas, por exemplo. Você lê em uma matéria breve, quase uma notinha, que um jovem de 16 anos foi assassinado.

Logo leva um susto, tão jovem, mas a frase-arremate lhe deixa mais tranquilo. Estava envolvido com drogas. Coloca no mesmo saco usuário, traficante, aviãozinho (...) É a criminalização não confirmada, mas que abre espaço para difamar a vítima. Mais fácil para que a notícia passe despercebida. Para que fique para trás e não traga repercussão maior do que aquela nota de jornal.

Ainda não sou fã de Roberto Saviano porque não li o que ele escreveu. O que vi foi ele falando do que escreveu, o que não é a mesma coisa, mas já me deixou curiosa. Com esse post encerro qualquer papo sobre a Itália por um bom tempo. Vou voltar as minhas divagações cotidianas e com prazer, pois já saturei o assunto. Talvez não no blog, mas na minha cabeça, ooo,isso sim. Huahauhau

Para saber mais sobre o Roberto Saviano.

PS: Escrevi o texto antes da Conferência que acompanhei na Universidade do Porto. Vem mais um texto que fala da Itália por aí. Fazer o que. =P

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