sábado, 3 de abril de 2010

Se a demissão não vai até Mariana, Mariana se demite

E foi isso o que aconteceu em uma quinta-feira chuvosa de Porto. Mariana cansou de atender ligações de forma educada em um português brasileiro e pediu as contas. Escrito assim perde um pouco da graça. Vou começar a história do começo. Prometo que vou tentar ser breve, ok?

Então vamos lá.

Era uma vez uma menina (porque todas as mulheres entre os 5 e os 50 em Portugal são chamadas assim) que tinha dois patinhos de idade e estava completamente perdida em um lugar estranho. Não sabia o que estudar, onde morar e nem como ganhar dinheiro.

Foi quando ela ligou seu notebook e procurou por empregos. Genial. Google e seus amiguinhos mostrando oportunidades. Depois de conferir as últimas fotos, ler vários mini leads de menos de 140 caractéres de colegas sobre o fim das férias e recusar uns três convites para abrir uma fazendinha, a menina encontrou um anúncio que gostou bastante.

Você, que é ambicioso, comunicativo e criativo e quer ganhar uma graninha não perca esta oportunidade! São apenas quatro horas diárias, segunda a sexta, e fora do horário de estudos. Entre em contato conosco! Uhul!

Uau. Era isso mesmo o que era preciso.

A menina dos dois patinhos logo telefonou, marcou hora, passou pela entrevista, passou pela semana de teste e estranhamente já estava assinando um papel. Tudo foi tão rápido que não durou um mês inteiro. Mas não deu certo.

O comunicativo era pra falar por quatro horas pelo telefone. Isso tudo certo, a menina já havia se acostumado com esse artigo tecnológico a uns dois anos quando atendia ouvintes em um programa de rádio. O criativo era pra saber inovar e cativar cada cliente, eram as vendas pensando em cada tipo de pessoa. E isso foi difícil. Vender nunca tinha vendido. Guardem segredo, a menina vendia as rifas da escola para parentes.

O que pegou foi o ambicioso. Todos os dias essa palavra brigava com a menina e a intrigava. Ela recusava-se a tratar todos do outro lado da linha como possíveis clientes e nada mais. E isso não está certo, não pra quem quer vender. Portanto estava errada em um mundo certo, mas não para ela.

Mas tudo foi tão rápido e tão longo. Tão fácil e tão custoso. Tão agradável e tão enojado, que não houve mais espaço para tentativas. A menina tomou coragem e disse que não queria mais. E foi o fim. O fim de um começo em um emprego bacana, só que não para ela. Recompensador, mas não para ela. Um ambiente de trabalho e colegas queridos, mas que não reconfortavam a pressão da palavra ambição.

Depois de dizer tchau, deixar anotações e abrir a porta ao mesmo tempo que lembrava-se do guarda-chuva no cesto, e voltar para buscá-lo, o sorriso voltou ao seu rosto. A palavra temida vai ter que aguardar mais um pouco e a menina fez parar a chuva. Mandou mensagem internacional, ligou para seu amigo e olhou para um belo arco-íris, tão clichê e verdadeiro quanto escrever que isso é clichê e verdadeiro.

Fim
See ya

Um comentário:

  1. Bom texto! Adorei! Mesmo!

    Decisão acertada, Mari! Pra quê continuar onde não é seu lugar?

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