Festa estranha com gente esquisita seria muito clichê para começar a falar da noite de 11 de outubro, véspera de feriado. Até
porque estranhamento é uma palavra tendenciosa, e esquisitices são esperadas de uma festa à
fantasia. Não é sempre que se pode bancar um personagem em público. Eu já havia comprado o
ingresso, arrumado a roupa, quando surgiu a oportunidade de escrever sobre a experiência. O
único problema é que não soube diferenciar a observadora da participante.
O tema da Festa à Fantasia do curso de arquitetura da UFSC era a tropicalidade. Os organizadores
eram Zé Cariocas e Carmens Mirandas. Os seissentos convidados, que ocupavam um ambiente
onde é comum ter até 400 pessoas, se amontoavam e reclamavam da falta de ar condicionado. O Célula Showcase, local do evento, tinha apenas ventiladores e umidificadores de ar pelas paredes laterais, o que não
dava conta de tanta transpiração. A sensação térmica contribuía ao espírito tropical. O que se
podia fazer era beber para amenizar o calor.
Open-bar. Em seis horas de festa, 816 garrafas de cerveja foram consumidas, além das vodkas,
refrigerantes e energéticos. As Carmens, de vestido de xita e arcos de fruta no cabelo, serviam as
filas formadas em frente ao balcão. Era só ir até elas com uma caneca e fazer o pedido.
No meio do amontoado de gente, ainda se encontravam clareiras, onde se podia dançar sem
esbarrar em ninguém. A Pinup-up dizia que o ambiente não estava lotado, as pessoas só estavam
mal distribuídas. Ao fundo tocava um rock da banda Caju Amigo, que já estava terminando sua
apresentação. Rock inglês em festa tropical. Hum. Não sei se era uma boa combinação. Mas a essa
hora tudo parecia fazer sentido. Noivas, policiais e super-homens pulavam e cantavam as canções
de sua adolescência recente.
Sobe ao palco Zuleika Zimbabue, um homem com trajes de vidente, figura já conhecida de outras
festas. Ele quem anunciava as próximas atrações, e também foi quem coordenou o concurso de
fantasias. Carmens mirandas se misturaram com o público e selecionaram a meia dúzia mais
irreverente para a competição. Zuleika ia chamando o Chaves, Kiko e Seu Madruga, o Spock de
Jornada nas Estrelas e o homem-carne, que roubava a cena. O homem-carne vestiu uma sunga, se pintou de vermellho e se embalou com papel-filme, com preço colados no corpo. O calor fazia sua embalagem brilhar de suor.
Zuleika resolveu democratizar a seleção. Quem não foi pré-selecionado podia se juntar aos demais
para tentar a sorte. O palco começou a encher, veio o Homem-chuveiro, os Shakes árabes, dois
caras vestidos de sedex que entoavam o funk “Você, você,você (...)”. Zuleika gritava no microfone
enquanto não parava de subir gente para exibir a fantasia. Em menos de cinco minutos o espaço já
estava lotado. O público batia palmas pelo candidato preferido e o vencedor do concurso foi o
Coluna Grega. Vestido de branco, com um adereço quadricular na cabeça, Coluna explica que era
dórico. O pilar dórico, que simbolicamente representa a força do homem, era a fantasia do
estudante magricelo de arquitetura.
Zé Carioca esperava a bagunça, mas perto das 2h30 ficou preocupado. Todos estavam muito
loucos. Os sofás próximos aos banheiros, retirados do salão, estavam ocupados por corpos
bêbados e desacordados. A bebida mais solicitada era água, para remendar as consequências da
bebedeira. A situação parecia a um passo de sair do controle, o que lhe causava um frio na barriga,
amenizado pela experiência dos seguranças contratados. Com paciência, eles colocavam ordem na
casa. Dez para as quatro da manhã a música acabou. Os últimos festeiros foram convidados a se
retirar. O alvará de funcionamento do local não permitia barulho depois desse horário. Só ficou a
sujeira para a faxineira e sua filha limparem no dia seguinte.
Nas palavras do vocalista da banda Caju Amigo, a festa só não foi memorável porque tem partes das quais
ninguém se lembra.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
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